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A triste realidade dos solos descobertos por Afonso Peche Filho

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A triste realidade dos solos descobertos

28 de abr de 2020 Artigos

Sem alarmismo, mas com prudência, convém olhar com atenção os
crescentes problemas que a exposição dos solos traz para áreas
agrícolas. Seus efeitos atuais, em médio e longo prazo.
Com adoção do sistema convencional de preparo e condução de lavouras
quando a safra termina fatalmente o solo está mais fragilizado,
mostrando sinais de empoçamento, desarranjos superficiais, deslocamento
de partículas e invariavelmente processos erosivos, pequenos ou
grandes.
Mesmo que não aconteça erosão em grandes proporções o agricultor
sempre faz o sacrifício de perder qualidade produtiva do solo que ele
vem construindo a décadas ou mesmo de uma vida inteira. No atual
estágio da agricultura brasileira e de todos países tropicais a cada
safra o problema de controle da degradação das áreas produtivas fica
mais complicado. É fato que com o passar dos anos as terras agrícolas
aumentaram sua vulnerabilidade com o manejo convencional.
Os dados da Embrapa, mostram que o Brasil tem por volta de 63.994.709 ha
de área cultivada e a Federação de Plantio Direto e Irrigação
mostra dados em seu site que em 2018 o Brasil tinha por volta de 33
milhões de hectares com o sistema implantado. Só Deus sabe com que
qualidade da cobertura e das práticas conservacionistas. Fato é que
ainda temos no país uma enorme quantidade de área com solo exposto por
pastos degradados ou por áreas que sofrem mobilização e exposição
pela adoção de sistemas convencionais de plantio. Eis aí um excelente
motivo para redesenhar o manejo tradicional e caminhar para um modelo
que elimine a mobilização e adote constantemente a cobertura
biodiversa do solo.
Essa perda progressiva da capacidade produtiva do solo nada tem a ver
com a falta de tecnologia, e sim com o modelo reducionista e impactante
de ocupação e uso das terras agrícolas tropicais. O que ocorrerá na
próxima safra? Quantos milhões de dólares vamos perder pela erosão?
Qual é o custo ambiental de sacrificar áreas produtivas com a
exposição dos solos? Respostas estas que eu gostaria de poder responder.
No Brasil, parece que o planejamento de safra não inclui medidas
efetivas de prevenção e controle de perdas da capacidade produtiva dos
solos agrícolas. A avaliação produtiva das áreas sempre se refere
aos dados de quilogramas de produtos colhidos por hectare, nunca quanto
de degradação foi produzida.
Processos erosivos de grandes proporções tem sido administrado sem que
pareçam problemas, nem analistas e nem investidores levam em conta
perdas por erosão na agricultura brasileira. Muito menos empresas que
vivem do agronegócio brasileiro, somente o agricultor administra o
risco ou fica no prejuízo. E aí vale o clássico ditado: “O
agricultor passa mais a terra fica e sabe lá como”.

Afonso Peche Filho é pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas – IAC