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Covid-19: oportunidades e desafios no setor de hortifruti

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Covid-19: oportunidades e desafios no setor de hortifruti

18 de jun de 2020 Artigos

Desde o final de março, a economia e o setor de hortifruti vêm sentindo os impactos negativos das medidas de isolamento social no País, diante da pandemia de coronavírus. Em junho, a maioria dos estados já flexibilizou as medidas, o que pode favorecer parcialmente o consumo de frutas e hortaliças.

No entanto, é importante considerar que, daqui para a frente, ainda vamos enfrentar um período de dificuldades econômicas e de restrição à mobilidade. O “novo normal” só deve ocorrer após a descoberta de uma vacina ou de um remédio eficaz no combate ao coronavírus. E é então quando esse “novo normal” chegar que os novos padrões de consumo, provavelmente diferentes dos adotados anteriormente pelo consumidor, irão se estabelecer. 

Assim, é importante para o setor de hortifruti rever seus investimentos e decisões baseados no fato de que a “normalidade econômica” vai demorar muito mais tempo para acontecer que a própria pandemia. Várias consultorias apontam que podemos chegar economicamente a um “novo normal” apenas em 2022. No curto prazo, é provável que o segundo semestre apresente indicadores econômicos mais negativos do que os atuais, como o desemprego e a queda de poder de compra do consumidor.

Até o “novo normal”, a expectativa é de um período de queda da atividade econômica e de distanciamento social de 12 a 18 meses. É um período longo e vai exigir muito planejamento para tomar as decisões mais certeiras na cadeia produtiva do hortifruti. Entender as oportunidades e os desafios dessa cadeia é uma forma de auxiliar nesse planejamento.

OPORTUNIDADES DURANTE A PANDEMIA DO COVID

O agronegócio, em geral, apesar das dificuldades, tem mantido suas atividades devido à sua essencialidade na economia. As pessoas continuam se alimentando, mas novos hábitos têm sido estabelecidos, e é importante entender esses comportamentos e captar as oportunidades. 

No geral, as pessoas têm feito as refeições em casa e têm mais tempo para o preparo dos alimentos, o que pode impulsionar as vendas de hortaliças. Além disso, há um apelo forte para a alimentação saudável, podendo ampliar a busca por frutas e hortaliças. Também há uma reorganização nos locais de compras de alimentos, concentrando-se principalmente nos supermercados/hipermercados.

Pesquisas apontam que, mesmo após o fim do isolamento social, a tendência da refeição preparada no lar persistirá, assim como a preocupação em ter hábitos mais saudáveis. Outra forte tendência é a compra on-line de alimentos: com supermercados/hipermercados inovando os negócios por meio de aplicativos, feirantes desenvolvendo modelos de entrega em casa ou por drive thru e agricultores entregando produtos diretamente ao consumidor por meio de pedidos em redes sociais. Essas inovações são importantes e muitos modelos de inovação vão permanecer após a pandemia. 

Outra oportunidade é o setor externo: o Real desvalorizado e a desorganização parcial do sistema produtivo agrícola de vários países da Europa e do Mercosul e dos Estados Unidos podem ser uma oportunidade para o setor de frutas – e, também, para hortaliças, especialmente no Mercosul. As exportações de frutas, mesmo durante a pandemia, estão em bom ritmo, com exceção do mamão, devido à suspensão de vôos – os embarques de manga, uva e limão registraram bom desempenho nos três primeiros meses de isolamento social no Brasil.

QUAIS DESAFIOS O SETOR DE HORTIFRUTI VAI ENFRENTAR?

A queda no poder aquisitivo da população brasileira e medidas limitantes para a abertura dos estabelecimentos comerciais podem reduzir a demanda por frutas e hortaliças no segundo semestre. Além disso, no inverno, a produtividade das hortaliças aumenta, mas há queda do consumo de frutas. Outro fator negativo é que, mesmo com a flexibilização, as escolas e os restaurantes não devem funcionar plenamente no segundo semestre. 

Vale mencionar, ainda, a dificuldade de escoamento da cadeia produtiva, principalmente via Centrais de Distribuição. No geral, quanto mais longa a cadeia e com mais intermediação, mais dificuldade há na coordenação e no escoamento do produto. As frutas e hortaliças mais perecíveis também são mais sensíveis às medidas de distância/isolamento social porque o consumidor tem ido às compras com menor frequência. Outro ponto importante a considerar é a possível intensificação da já limitada capacidade de compra do consumidor brasileiro no segundo semestre, por conta da queda da renda e/ou do aumento do desemprego. Assim, as vendas especialmente de frutas e hortaliças mais caras devem diminuir.

Por

Margarete Boteon

Professora da Esalq/USP e pesquisadora do Cepea

cepea@usp.br

Data de publicação: 17/06/2020

Fonte: CEPEA/ESALQ-USP