Agronegócio: importância da ciência e da tecnologia
O Brasil se transformou num dos maiores dos maiores produtores e exportadores de produtos agrícolas do mundo devido ao desenvolvimento e incorporação de inovações tecnológicas em todas as fases das cadeias produtivas. Estes avanços foram obtidos graças aos investimentos em pesquisa, tanto básica quanto aplicada, realizados nas instituições públicas e privadas.
Estima-se que, no Brasil, cada real investido em pesquisa tenha trazido um retorno de 12 a 20 reais. Investir em pesquisa no agro é um excelente negócio! As instituições de pesquisa no Brasil deverão continuar a ser prestigiadas.
Até os anos 1970 o Brasil não se destacava no cenário mundial como um grande produtor agrícola. Éramos importadores de alimentos. Embora nossa pesquisa agronômica tenha mais de 100 anos, em instituições como o Instituto Agronômico de Campinas e as Escolas de Engenharia Agronômica, o grande salto ocorreu com a criação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o fortalecimento de instituições federais e estaduais de ensino, pesquisa e extensão em todo o país e os investimentos das empresas privadas do setor agro.
Para que o Brasil cumpra com a expectativa do mundo de ser o país que mais vai contribuir para atender a demanda crescente de alimentos, fibras naturais e biomassa nos próximos anos, é fundamental que continue investindo em pesquisa!
Os desafios da pesquisa são cada vez maiores. É necessário produzir em quantidade e qualidade, com sustentabilidade. É fundamental respeitar o ambiente e as pessoas. Aumentar a produção principalmente pelo incremento do rendimento e não de expansão da área cultivada. Isto significa uso de mais tecnologia, tanto dentro das propriedades rurais (“dentro da porteira”), como nas atividades “antes da porteira” (sementes/mudas, fertilizantes, defensivos, máquinas e equipamentos) e “depois da porteira” (transporte, armazenamento, processamento e distribuição).
As soluções tecnológicas do agro brasileiro não podem ser, simplesmente, importadas de países mais desenvolvidos. Temos que desenvolver nossas próprias soluções. As principais regiões de produção agrícola do mundo são temperadas. O Brasil é líder mundial de uma agricultura tropical graças a pesquisa agrícola aqui desenvolvida.
Embora a pesquisa seja importante para a evolução da humanidade em todos os setores, no agro o investimento local é essencial. Foi graças a pesquisa desenvolvida no Brasil que foi conquistado o Cerrado, implantado o Plantio Direto, criado plantas e animais adaptados para serem produzidos em todo o Brasil, utilizadas técnicas de agricultura de baixo carbono, como a Fixação Biológica de Nitrogênio, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, o cultivo em duas ou três safras na mesma área, etc.
Graças a incorporação de tecnologias adequadas para os diferentes sistemas de produção, o agro vem contribuindo para economia brasileira, com expressiva participação no PIB, na balança comercial, exportações, na geração de emprego, renda e qualidade de vida da população. Somos importantes produtores e exportadores de soja, café, açúcar, carnes (bovina, suína e de frango), leite, celulose/papel, citros, milho, algodão, fumo, hortaliças e frutas. Precisamos agregar mais valor à nossa produção, aprimorando o processamento/industrialização de nossas matérias-primas.
Outros setores também têm contribuído para a pujança do agro brasileiro: gestão, conectividade, regulamentação, seguro, regularização fundiária, assistência técnica e extensão rural, defesa agropecuária, rastreabilidade, certificação, etc. Entretanto, a pesquisa, gerando inovações tecnológicas, é fundamental para termos um agro cada vez mais sustentável.
Por José Otávio Menten, Presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo e Professor Sênior da ESALQ/USP