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Agronomia em campo

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Agronomia em campo

5 de jan de 2022 Artigos

Uma das áreas que poucos engenheiros agrônomos conhecem e atuam é o ramo de gramados esportivos. É um segmento da agronomia em crescimento no Brasil, porém muito estudado e extremamente moderno.

Nos EUA e na Europa, é uma área de atuação extremamente difundida e com boas posições de trabalho. Nessa parte do mundo, a maior fonte de trabalho são os campos de golfe, pela extensa e minuciosa área de trabalho.

No Brasil, o país do futebol, os campos de futebol (estádios, centros de treinamento e clubes sociais) são as principais fontes de contratação do engenheiro agrônomo.

Temos também, no país, alguns campos de golfe, campos de polo, pistas para cavalos e outras áreas que podem absorver a mão de obra do engenheiro agrônomo. O trabalho desse profissional em gramados esportivos, assim como na área agrícola, começa com o planejamento da temporada. Pensamos na recuperação do campo após o final da temporada, o detalhamento da sua manutenção, que contempla principalmente a fertilização e a manutenção das condições físicas do solo para que o campo possa suportar a carga de jogos e treinos e recuperar-se rapidamente das agressões que sofre durante o uso.

Além disso, há também as atividades mais críticas de solo, como descompactação e aeração, atividades de controle da matéria orgânica, como corte vertical e groomings e outras atividades como topdressing (cobertura com areia), controle de pragas e doenças e fertilizações foliares.

A mecanização do trabalho é bem avançada. Para todas as atividades, existem máquinas extremamente modernas e com funções bem específicas. A máquina de corte helicoidal, a mais importante na manutenção de um campo esportivo, é composta de um cilindro de corte que simula um corte de tesoura e é um dos principais investimentos do campo.

O custo de uma máquina de corte profissional começa em U$ 20.000 e vai até cerca de U$ 50.000, dependendo da qualidade, largura de corte e tecnologia aplicada. Um parque de máquinas de um campo de golfe profissional mediano precisaria hoje de um investimento de aproximadamente U$ 500.000.

Temos ainda máquinas para a descompactação e aeração do solo, que são equipamentos com pinos que furam o solo a determinada distância e profundidade, que promovem uma descompactação da

camada superior do solo, aumentando a troca gasosa que melhora a drenagem do campo.

Já a máquina de corte vertical é um equipamento com lâminas verticais que auxiliam na limpeza da matéria orgânica, depositada entre o solo e as folhas da grama, além de estimular a brotação da grama, cortando seus rizomas e estolões. Essa atividade é feita rotineiramente no gramado com menor intensidade e, no final da temporada, de maneira mais agressiva para renovar o gramado.

A máquina de topdressing, ou cobertura, espalha areia de maneira uniforme pelo gramado e auxilia no controle da matéria orgânica, melhoria do micronivelamento e renovação do perfil superficial do solo, quando feita depois de uma aeração/descompactação.

A fertilização e o controle de pragas e doenças também faz parte do dia a dia da manutenção, promovendo o crescimento ideal do gramado e auxiliando na recuperação do campo para as próximas partidas ou treino.

Os produtos para gramados esportivos estão muito evoluídos e hoje existem fábricas de fertilizantes foliares e granulares criados especificamente para gramados esportivos. No Brasil, esse mercado ainda é pouco desenvolvido e apenas uma empresa internacional revende produtos específicos para esse ramo no país.

Quando falamos de tecnologia de ponta, também falamos de equipamentos extremamente modernos para o desenvolvimento dos gramados esportivos. A Arena Corinthians Itaquera, hoje chamada de Neoquímica Arena, é a mais moderna da América do Sul nesse quesito. Por ser um gramado inspirado nas arenas da Europa, principalmente da Premier League, possui praticamente todos os sistemas mais inovadores que envolvem a construção e manutenção de gramados esportivos.

Sua grama é o Ryegrass perene, um tipo de azevém para gramados esportivos, e, por isso, necessita de clima temperado para se desenvolver adequadamente.

Para simular um microclima ideal para o desenvolvimento do gramado, a 20 centímetros de profundidade, temos uma serpentina de aproximadamente 30 quilômetros de extensão, onde circula água gelada a 6 graus celsius para manter o perfil do solo no máximo a 24 graus.

O sistema de drenagem permite insuflar ar gelado no solo para auxiliar a manter a temperatura baixa e também oxigenar as raízes. Durante as chuvas mais pesadas, o sistema pode ser invertido, trabalhar em vácuo para drenar a água rapidamente da superfície de jogo, evitando poças de água no gramado.

Injetado nos 18 centímetros iniciais do solo, a cada dois centímetros, temos uma fibra sintética que auxilia o gramado a suportar a carga de jogo, evitando danos ao gramado oriundos dos chutes, carrinhos e pisoteio.

Todo esse sistema é controlado por um computador central conectado à internet, que mantém o engenheiro agrônomo informado sobre a

temperatura, umidade e eletrocondutividade do solo, minuto a minuto, além de permitir acionar ou desligar qualquer sistema via celular.

A irrigação do gramado também é extremamente moderna e permite a regulagem do tempo de irrigação dos 48 aspersores, individualmente, para se adequar à condição de insolação e umidade de áreas do gramado, conforme sua necessidade. Assim como os outros sistemas, também funciona on-line, com possibilidade de acesso remoto e desligamento automático em caso de chuva e programação conforme a necessidade.

As novas arenas no Brasil trouxeram um desafio a mais, que é manejar a influência do sombreamento das coberturas no gramado. Para isso, a Neoquímica Arena possui sistemas de iluminação suplementar para que o gramado possa fazer fotossíntese 24 horas por dia, principalmente nas áreas sombreadas, para compensar a falta de luz. Existem ainda pequenas unidades para serem utilizadas em pequenas regiões, na recuperação de áreas mais agredidas do campo.

Dessa maneira, outra área muito técnica da engenharia agronômica é a construção de gramados esportivos. Pouca gente imagina a quantidade de itens a serem avaliados para a execução de um projeto, que vai desde a orientação do gramado em relação aos pontos cardeais (os gramados das arenas são sempre orientados de norte a sul), até o design da drenagem e da irrigação.

O solo, onde a grama vai se desenvolver, também tem características que devem ser seguidas, como a granulometria da areia, compactação do solo para plantio e porcentagem de matéria orgânica.

Um gramado esportivo de alto nível pode custar a partir de U$ 250.000 e não tem limite de custo quando começamos a falar de tecnologias aplicadas na construção da superfície ideal. Entre os gramados mais modernos e caros do mundo, temos o estádio do Tottenham HotSpur e Wembley Stadium, em Londres; do Las Vegas Raiders, em Las Vegas, dentre outros.

Não temos nenhum tipo de especialização em gramados esportivos nas universidades brasileiras, a maioria dos profissionais que atuam no país foi aprendendo por experiência própria ou despendendo tempo em estágios e cursos no exterior.

A Copa do Mundo 2014, a Rio 2016 e a Copa do Mundo Sub-17 2019 foram muito importantes para o desenvolvimento dos gramados esportivos e da especialização dos engenheiros agrônomos que atuam nessa área no Brasil. Hoje, após rodar muito por aí, posso afirmar com certeza de que somos o país mais desenvolvido em termos de gramados esportivos na América do Sul.

Quem quiser saber mais sobre essa área pode se informar melhor no site da Sports Turf Managers Association (STMA), em universidades nos Estados Unidos. Existem universidades americanas que disponibilizam cursos de gramados esportivos on-line com ótimo conteúdo. No Brasil, é realizado já há alguns anos o Sigra – Simpósio sobre Gramados, que ocorre em Botucatu (SP) a cada dois anos.

No ano passado, o simpósio teve de ser adiado em virtude da pandemia e deve ser reprogramado para uma nova data, assim que tudo se normalizar. É uma ótima oportunidade de conhecer o ramo, os profissionais e as empresas que nele trabalham.

*Engenheiro agrônomo André Amaral, diretor de Operações da World Sports.