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Amendoim: pequeno grão, grande potencial na agricultura brasileira

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Amendoim: pequeno grão, grande potencial

20 de abr de 2020 Notícias

O amendoim, cujo nome científico é Arachis hypogaea, é uma fruta oleaginosa da mesma família das castanhas, nozes e avelãs, muito reverenciada no período das festas juninas e julinas. A data festiva no Brasil aumenta o consumo de doces e salgados, como pé de moleque, paçoca, amendoim japonês e amendoim sem pele.

A pesquisa Conecta, encomendada pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), apontou que, onde as festas são tradicionais, o consumo é mais expressivo, caso do Nordeste (77%), Centro-Oeste (70%) e Sudeste (63%).

Porém, embora o brasileiro goste de amendoim, a população ainda o consome pouco. No país, o consumo per capita é de 800 gramas por ano, enquanto na Indonésia é de 6,5 kg e, nos Estados Unidos, 6,3 kg.

Desde 2010, a área plantada e a produção de toneladas de amendoim têm registrado aumento, principalmente no Estado de São Paulo, que é o principal produtor e responsável por 90% da área plantada no Brasil. Os demais 10% estão pulverizados entre Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e a região Nordeste.

Um exemplo desse crescimento é que a safra colhida em 2011 atingiu 226 mil toneladas e, em 2016, o volume chegou a 515 mil toneladas.

Na visão do agrônomo Bruno Rangel Geraldo Martins, vice-presidente da Cooperativa Agroindustrial (Coplana),o Estado deSão Paulo se destaca uma vez que foi um dos primeiros a adotar o cultivo do amendoim por meio da rotação com a cana-de-açúcar.

Esse processo é introduzido no período de reforma dos canaviais, realizado em média a cada cinco cortes, e surgiu ao verificar-se a oportunidade de renda extra para o produtor. Ao adotar a rotação na entressafra da cana, o produtor tem uma receita oriunda da atividade do amendoim.

Segundo Martins, os impactos da rotação de cultura são positivos porque, após anos de plantação de cana, o plantio do amendoim faz a reciclagem do solo, combate pragas, plantas daninhas e doenças. “Colocamos uma grande quantidade de nitrogênio através das raízes do amendoim, que é uma planta leguminosa e tem a capacidade de tirar o nitrogênio do ar e colocar no solo”, explica.

Inclusive, a Coplana é uma das pioneiras na rotação de cultura com amendoim – a rotação também pode ser feita com soja ou outras oleaginosas – e trabalha em parceria com os produtores, majoritariamente agricultores familiares. “Como São Paulo é o maior produtor de cana, consequentemente, é o maior produtor de amendoim. Hoje temos pequenos produtores de cana que são grandes produtores de amendoim.”

A cooperativa disponibiliza todos os insumos necessários, desde a semente até os produtos fitossanitários e fertilizantes para que o produtor possa conduzir a cultura de forma sustentável. Na colheita, a cooperativa recebe todo o amendoim, faz a comercialização, durante o ano, e repassa a renda ao produtor.

Volume da cultura de verão

No Estado de São Paulo, o amendoim é produzido na região da Alta Mogiana, que contempla Jaboticabal, cidade que ganhou o título de capital paulista do amendoim, e Ribeirão Preto. Além da Alta Paulista, região integrada por cidades como Tupã, Marília, Rancharia e Presidente Prudente.

O amendoim é conhecido como uma cultura de verão, pois é plantado a partir dos meses de outubro e novembro e colhido a partir de fevereiro, março e abril do ano seguinte.

No entanto, o período forte de seca, entre os meses de dezembro de 2018 e o fim de janeiro de 2019, foi prejudicial às lavouras. O esperado pela Coplana eram 3,8 milhões de sacos e ela recebeu 3 milhões.

A estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que a safra de julho deste ano atinja 146,6 mil hectares de área plantada, aumento de 5,2% quando comparado ao mesmo período de 2017/2018. Já a produtividade deve cair em função da falta de chuvas, a previsão é de que fique em 2.964,98 quilos por hectare, uma variação, para baixo, de 19,9% em relação a 2017/2018, que registrou 3.703,51.

Dados da Câmara Setorial do Amendoim, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, são menos conservadores e, embora a safra 2019 ainda não tenha sido encerrada, estimam-se 200 mil hectares de área plantada e cerca de 600 mil toneladas somente no Estado.

Em média, o saco de 25 quilos de amendoim está em torno de R$ 50.

De olho nos mercados

Para conquistar consumidores e aumentar a participação de mercado, a estratégia da Câmara Setorial é trabalhar em duas frentes: ampliação do consumo interno e aumento da exportação.

O potencial na exportação é elevado, pois atualmente o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking dos países exportadores de amendoim, com um market share de 7%.

Na exportação, o principal destino do produto é a Rússia, que consome 39% do amendoim, seguido pela Europa com 25%, Argélia e México.

A China, por exemplo, é um grande produtor do segmento e também  importador, por isso se torna um dos mercados para colocação do produto brasileiro.

Os principais concorrentes do amendoim brasileiro são os americanos,  que, além de grandes consumidores, exportam amendoim de qualidade, e os argentinos, que plantam cerca de 350 mil a 400 mil hectares de amendoim, quase integralmente para exportação.

O processo de exportação do amendoim brasileiro teve início no ano 2000, quando alcançou o nível de qualidade exigido pelo mercado externo. Afinal, para exportação, ele precisa ter um bom aspecto visual, não pode estar partido e deve possuir o teor de aflatoxina, metabolitos tóxicos produzidos por certos fungos, dentro dos limites exigidos pelos países.

A aflatoxina está presente em outros grãos, mas, no caso do amendoim, é importante porque ele passa por um processamento mínimo e segue para o consumo.

O mercado mais exigente é o europeu, cujo limite é de 2 p.b.p. Na Rússia, são 10 p.p.b; nos Estados Unidos, 15 p.b.p., e no Brasil, conforme determinado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 20 p.p.b. “Para atingir essa qualidade, é necessário um trabalho de pós-colheita muito bem realizado, cumprindo protocolos”, ressalta Luiz Antônio Vizeu, presidente da Câmara. A medida p.p.b indica partes por bilhão e mede a quantidade de aflatoxina.

É no trabalho de processamento que reside um dos desafios. A Câmara tem o grupo de exportação, que reúne as 12 principais empresas exportadoras do Brasil, e trabalha na padronização da produção de amendoim.

“Aumentar a área plantada do amendoim é relativamente fácil, o problema é processá-lo depois da colheita. Por isso, é necessário ter estrutura para receber o amendoim, fazer a pré-limpeza, secá-los e separá-los por teor, seja no produtor, nas cooperativas ou nas agroindústrias. A partir de então, eles podem ser processados com todo o rigor que o protocolo em vigor exige”, relata Vizeu.

Na Coplacana, conforme informa seu vice-presidente, entre 60% e 70% da produção é exportada, tendo o mercado europeu como maior consumidor.

Mais produtos nas gôndolas

No Brasil, os principais compradores de amendoim são as agroindústrias, que desenvolvem doces (paçoca, pé de moleque, chocolates e outros) e snacks.

O mercado interno está em ritmo de desenvolvimento. Há um entusiasmo do setor com os produtores e a agroindústria. “Nos últimos anos, surgiram nas prateleiras dos supermercados diversos produtos à base de amendoim. O que falta é avançarmos, por exemplo, na produção de pastas de amendoim”, observa o presidente da Câmara.

A falta de conhecimento influencia o consumo. Um exemplo é que pouco se fala dos benefícios da oleaginosa para a saúde, pois é rica em gorduras boas, como o ômega 3, além de prevenir doenças cardíacas, câncer, aterosclerose, anemia e envelhecimento precoce. Por isso, a Câmara mantém em seu escopo de planejamento a mobilização da iniciativa privada para promover o consumo de amendoim no Brasil.

O grupo de defesa sanitária da Câmara Setorial quer aumentar o número de produtos de amendoim registrados, hoje considerado pequeno. “Necessitamos no campo de uma maior gama de produtos porque os nossos maiores concorrentes – Argentina e EUA – possuem muito mais produtos à disposição no campo.”

Nesse sentido, as cooperativas e alguns produtores se juntaram e estão trabalhando no desenvolvimento de sementes em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Pesquisa: aporte do setor privado

Luiz Antônio Vizeu explica que o amendoim tem um ciclo longo, de 130 dias, e pode suportar uma variação climática maior. “Em alguns períodos do ciclo do desenvolvimento do amendoim, não pode faltar água, mas ele é menos exigente em termos climáticos”, diz Vizeu.

Na opinião do vice-presidente da Coplana, a mudança de clima traz um desafio em termos de pragas para esse tipo de cultura. Se o ano está mais seco, tem-se uma menor incidência de fungos. Em contrapartida, pode-se ter maior incidência de insetos. “Como é uma cultura que fica embaixo da terra, temos problemas com umidade. Por isso, é importante o manejo sanitário adequado para maior aproveitamento da cultura”, comenta Martins.

As variedades de amendoim existentes, de acordo com o pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas, Ignácio Godoy, são: IAC Tatu ST; Runner IAC 886; IAC 503; IAC 505; IAC OL 3; IAC OL 4.

Godoy, cuja carreira é voltada para o melhoramento genético e tecnologia de produção de amendoim, destaca que as doenças foliares comprometem a produção e devem ser controladas com fungicidas.  

A principal doença é a mancha preta, causada pelo fungo Cercosporidium personatum. Já o tripes (Enneothrips flavens) é a praga mais importante da cultura e deve ser controlada com inseticidas específicos.

Diversos avanços têm sido alcançados pela pesquisa de amendoim no Brasil. “O melhoramento genético e a criação de cultivares são os mais significativos. Há também avanços na área de mecanização, com a disponibilização de máquinas modernas para colheita. No aspecto de controle de pragas e doenças, os novos defensivos agrícolas também contribuem para melhorar o desempenho produtivo da cultura”, resume Godoy.

Outra área de inovação na cultura é a de preparo de solo para o plantio direto, com a disponibilização das máquinas Rip Strip, que permitem preparar o sulco de plantio sem destruir a palhada da cultura anterior.

Ainda no âmbito da pesquisa, Vizeu destaca que muitos estudos são feitos com amendoim, mas nem sempre estão atrelados às necessidades do setor produtivo no campo. “Neste ano, o setor privado está aportando cerca de R$ 900 mil para fomentar pesquisas. Estamos com problemas de percevejos. Além disso, precisamos desenvolver variedades.”

“Quanto melhor a produção, maior a remuneração”

Para o pesquisador Godoy, o amendoim  é um bom segmento para atuação de engenheiros agrônomos porque a evolução tecnológica da cultura tem demandado pessoal dedicado aos trabalhos de assistência técnica junto aos produtores.

A expectativa para o setor é positiva. O crescimento ocorre na medida em que os investimentos aumentam, principalmente em estrutura, tanto no produtor como no receptor de amendoim. “Hoje os produtores estão investindo nos barracões e as cooperativas, no processamento do amendoim. A cada ano, aumentamos a área plantada, inclusive o uso de semente certificada, que era um gargalo do setor e hoje já está sendo corrigido”, afirma Vizeu.

Atualmente, a Coplana já faz os levantamentos de área para 2020. A expectativa é de que os  produtores ligados à cooperativa plantem entre 20 mil e 25 mil hectares. “Estamos esperançosos em termos de clima para desenvolver melhor as plantas.”

O vice-presidente da cooperativa lembra que o cultivo de amendoim por meio da rotação é um trabalho que exige muito estudo e experiência. “Precisamos resolver a problemática do aumento de custo de produção, que depende do valor do mercado interno e do preço dos insumos. A cooperativa sempre prega que o produtor seja dedicado para que possa retirar a maior quantidade de amendoim por área. Quanto melhor a produção, maior a remuneração.”

Top 10 Exportadores*

  País 2018/2019 (1.000 mt)
1 Argentina 840
2 China 700
3 Índia 600
4 Estados Unidos 567
5 Brasil 230
6 Senegal 150
7 Nicarágua 125
8 Sudão 65
9 União Europeia 38
10 Egito 30

Fonte: USDA, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

Top 10 Importadores*

  País 2018/2019 (1000 mt)
1 União Europeia 970.
2 Indonésia 450
3 China 275
4 México 225
5 Canadá 165
6 Rússia 150
7 Vietnã 150
8 Japão 122
9 Filipinas 122
10 Tailândia 103

*Fonte: USDA, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

Por Caroline Rodrigues

Matéria originalmente publicada no Jornal do Engenheiro Agrônomo (JEA), edição 308, 2019.