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Cresce a presença feminina na Engenharia Agronômica no Brasil

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Cresce a presença feminina na Engenharia Agronômica no Brasil

Mulheres ganham espaço na engenharia agronômica no Brasil

14 de set de 2023 Notícias

A presença da mulher na Engenharia Agronômica no Brasil tem crescido significativamente nos últimos tempos, refletindo uma mudança positiva na, tradicionalmente masculina, cadeia agrícola. Elas têm desempenhado papéis essenciais em diversas áreas do setor, desde a pesquisa e desenvolvimento de técnicas agrícolas até a gestão de propriedades rurais, contribuindo para o avanço da sustentabilidade, aprimorando práticas e impulsionando a produção de alimentos de forma eficiente.

De acordo com uma pesquisa feita em 2020 pelo Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada (Cepea), a presença de engenheiras agrônomas no mercado de trabalho aumentou em 2019. O levantamento mostrou que 18,3 milhões de brasileiros ocuparam postos de trabalho na área. Esse número representa um aumento de 0,8% em relação ao ano passado (ou 145 mil pessoas a mais) e o maior crescimento esteve entre as mulheres, com um percentual de 2,02%.

No último censo agropecuário, realizado 2017 pelo IBGE, o aumento da presença delas também foi notada: 1.714.416 mulheres se autodeclararam chefes de um estabelecimento rural, 946 mil como a principal gestora e 817 mil como cogestoras, ao lado de cônjuges.

Essa presença trouxe e continua trazendo perspectivas diversas e inovadoras, enriquecendo o setor com novas ideias e abordagens. Embora os desafios de equidade de gênero ainda persistam, a crescente representatividade das mulheres na Engenharia Agronômica é um sinal positivo de progresso, em busca de um agronegócio mais inclusivo e sustentável no Brasil.

E aproveitando o Dia Mundial do Engenheiro Agrônomo, comemorado hoje, dia 13 de setembro, confira histórias inspiradoras de mulheres que representam o setor e vivem a realidade da profissão.

Formada em 1992, pela Esalq/USP, a chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente e integrante do conselho de conteúdo do CNMA 2023, Paula Packer, explica que na época da sua graduação as coisas eram totalmente diferentes dentro da sala de aula. “Eram aproximadamente 50 mulheres dentro de uma turma de 200 homens. Na época, acredito que essa discussão sobre gênero era muito velada, então nós íamos nos moldando conforme era preciso”.

Com o tempo, o cenário foi se modificando e, atualmente, a realidade já é bem diferente. “Hoje, há uma equidade muito mais aparente. Falando do curso de Agronomia, por exemplo, já temos uma proporção de 50 a 50 nas salas, se não uma quantidade até um pouco maior de mulheres”.

Nascida em Piracicaba, interior de São Paulo, Paula conta que o agro sempre esteve muito enraizado na família – principalmente com o pai e alguns tios sendo agrônomos -, e que, mesmo um pouco incerta no início, hoje tem certeza da escolha e se sente realizada. “Eu fui construindo minha carreira ao longo do tempo até chegar na parte ambiental que, desde a minha graduação, foi a área que sempre quis trabalhar”.

Yara Abrantes, engenheira agrônoma graduada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e consultora técnica de vendas da Agristar do Brasil – empresa de desenvolvimento, produção e comercialização de sementes -, já teve uma experiência diferente dentro da graduação. “Me recordo que minha turma foi uma das primeiras a ter uma quantidade muito próxima de homens e mulheres, o que não era uma realidade até então. E durante o curso, de forma geral, não me senti ‘menor’ por ser mulher”.

Apesar disso, ela ressalta que, no mercado de trabalho, sente que sempre precisa provar sua capacidade de atuação no campo. “Estamos sempre nos superando para que passemos a credibilidade necessária que o meio exige. E vejo que, diferente de nós, os homens não precisam provar o seu conhecimento a todo momento, só por serem homens”.

Mesmo com os desafios ainda enfrentados, o amor que Yara sente pela profissão é capaz de ultrapassar qualquer barreira. “Sempre gostei do campo, dessa liberdade de poder trabalhar em várias áreas, de estar ao ar livre, em lugares diferentes, conhecendo pessoas. O agro move tudo, tudo vem dele, somos a base. Tenho muito orgulho em participar dessa cadeia e poder contribuir com ela”.

O livro da vida real

O movimento de presença e liderança feminina dentro do agro vem ganhando força não somente dentro de universidades, empresas e instituições, mas também na literatura. Em julho deste ano, a Editora Leader lançou o livro “Mulheres no Agronegócio: O sucesso feminino no campo”. A obra apresenta a história de 24 mulheres/autoras – entre elas, Paula Packer -, que compartilham os desafios, aprendizados, erros e acertos ao longo de suas trajetórias dentro do agronegócio.

Com 28 anos de formação, a engenheira agrônoma e Stakeholders Affairs & Strategy – Food Value Chain Partnerships Director na Bayer, Alessandra Fajardo, é uma das participantes do livro e comenta que os desafios sendo mulher dentro da profissão começaram a surgir nas primeiras experiências no mercado de trabalho. “Fui trabalhar em propriedades em Goiás e, durante as visitas, havia produtores que me recebiam bem, mas muitos outros que me olhavam com certa desconfiança, duvidando da minha capacidade – e, com isso, eu tinha que ‘me provar’ muito mais”.

“Mesmo assim, eu tenho muito orgulho de ser engenheira agrônoma, porque eu acho que nós trabalhamos um tema muito nobre, que é importante não só para o Brasil, mas para o mundo. A cadeia de alimentos é algo riquíssimo e, se bem conduzida, é capaz de deixar legados e atuar na manutenção do planeta. Então eu realmente tenho muito prazer em estar inserida no agronegócio”.

Em relação ao livro, ela conta que foi um processo desafiador, mas que culminou em um ótimo e importante resultado. “Publicações como essa, que mostram os diferentes vieses da inserção feminina no setor, trazem não somente o agro como um todo, mas também o poder que as mulheres têm”.

E Alessandra gostou tanto da ideia, que se tornou coordenadora do Projeto de Mulheres da Sustentabilidade, que tem como objetivo debater e fomentar o agro e outros setores da economia que caminham juntos à sustentabilidade.

A engenheira agrônoma Fabiane Astolpho também tem um capítulo no livro e complementa que, “mulheres vendo outras chegarem aonde desejam, em cargos de liderança, é um grande incentivo, é uma grande ‘voz’ que se fortalece cada vez mais”.

Em quase 30 anos de atuação, uma das experiências trazidas por ela foi a perseverança que precisou ter para cursar Engenharia Agronômica na Esalq/USP. “Era uma época em que o magistério ou cursos voltados para a saúde eram as opções mais ‘viáveis’ para as mulheres. Fiz o magistério, mas sempre quis a agronomia. Então estudei bastante e, em 1991, iniciei a graduação”. “Eu sou uma apaixonada pelo agronegócio e tenho um orgulho imenso de ver como o setor cresceu no Brasil”.

Atualmente, a profissional trabalha como consultora da Fruto Agrointeligência, que tem como foco direcionar as mulheres para um caminho de sucesso e liderança.

Sobre sua contribuição na obra, ela comenta que ter sido um desafio junto a um misto de emoções. Afinal, não era uma escrita técnica, mas da própria vida. “Foi algo bem ‘emocional’, pois tive que fazer uma revisão mesmo da minha vida”. “E, para além desse, precisamos de muitos outros livros. A gente tem que dar voz a todas as mulheres do agronegócio. Elas precisam ser representadas, precisam saber que não estão sozinhas, que as dificuldades muitas vezes são as mesmas. E juntas, nós podemos ajudar umas às outras”.

A primeira diretora em 122 anos

Engenheira agrônoma formada pela Esalq/USP e Doutora em Tecnologia de Alimentos pela Unicamp, Thais Vieira abriu as portas para uma nova realidade: no começo deste ano, foi nomeada como a primeira mulher na história da Esalq/USP a ocupar o cargo de diretora!

Há pouco mais de um século, após a morte de Luiz Vicente de Souza Queiroz, o patrono da instituição, inaugurava-se a “Escola Agrícola Prática de Piracicaba”. A Sra. Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz, esposa de Luiz, teve um papel fundamental, participando das discussões sobre negócios e assumindo uma posição de vanguarda, por não “seguir os passos do marido”, mas sim andar ao lado, em uma época em que ainda não havia a proclamação da emancipação da mulher no país e no mundo.

“Assumi a Diretoria com apoio dos colegas que elegeram uma chapa liderada por uma mulher. Para ocuparmos os espaços da alta gestão é necessário estar disponível para tal e, sem a história das pessoas que nos precederam, isso seria impossível. É preciso lembrar que todas fazem parte da história da Esalq: servidoras, professoras, alunas e ex-alunas. Juntos, homens e mulheres, a cada dia e cada qual com sua contribuição, devemos seguir colaborando para termos uma sociedade igualitária por gênero”, ressalta.

E por falar no ambiente acadêmico, Thais diz que, desde 2006, quando retornou à instituição como professora, até os dias atuais, percebe o aumento da presença feminina nos mais diversos espaços. “Nos últimos anos, as formandas foram maioria nas premiações que temos a cada formatura, tanto por desempenho acadêmico quanto por destaque em áreas específicas. Especialmente nos últimos cinco anos, também houve aumento na participação de mulheres em conselhos e comissões”, finaliza.

Fonte: Mulheres do Agro