Sistema Plantio Direto completa meio século
O Sistema Plantio Direto (SPD) está completando 50 anos no Brasil. O sistema que contribui para o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro e que, basicamente, consiste do plantio em palhada com diversos benefícios, é considerado uma das ondas de revolução da agricultura brasileira.
É baseado em três pilares: o não revolvimento do solo (restrito às linhas de plantio e semeadura ou covas para mudas), a cobertura permanente do solo, feita preferencialmente com plantas vivas, mas podendo ser morta (palha), e a diversificação de plantas no sistema de rotação de cultivos.
O conceito de plantio direto foi introduzido nos anos 60 nos Estados Unidos e no Brasil surgiu na década de 70, no Rio Grande do Sul e no Paraná, principalmente nas regiões de Castro e Ponta Grossa. Conforme a Embrapa antes de 1979, os equipamentos eram ainda inadequados, havia carência de conhecimentos e de capacitação específica de técnicos. As semeadoras, pulverizadores e herbicidas para dessecação de plantas apresentavam limitações operacionais. Certas plantas daninhas eram apenas desfolhadas, rebrotavam e se tornavam perenes. Herbicidas tinham custo elevado, pois para funcionarem era necessário o dobro da dose normalmente aplicada no preparo convencional. A tecnologia de aplicação de herbicidas era pouco desenvolvida.
Os modelos de produção predominantes eram constituídos pelas sucessões de culturas trigo/soja e pela monocultura soja/pousio de inverno/soja. Esses modelos contribuíam para o aumento de doenças de plantas, para a persistência de certas espécies de plantas daninhas e geravam pouca palha que não fornecia os benefícios associados à cobertura morta.
Entre 1974 e 1979, a área ora crescia, ora decrescia, e a taxa de adoção foi da ordem de 11 mil hectares/ano (Fig. 1). Era comum o abandono do sistema no terceiro ou quarto ano de adoção ou mesmo no ano seguinte à adoção. Poucos produtores persistiram e tiveram sucesso, nessa época.
Entre 1979 e 1991, o crescimento médio da adoção foi sete vezes maior do que no período anterior, atingindo cerca de 79 mil hectares/ano. Nesse período foram criados os primeiros grupos de troca de experiência, envolvendo produtores rurais, assistentes técnicos e pesquisadores. Entre esses citam-se o Clube da Minhoca criado em 1979, em Ponta Grossa (PR) e, os Clubes Amigos da Terra, que, a partir de 1982, surgiram em 21 municípios do Rio Grande do Sul.
Esses grupos tinham como objetivos difundir experiências e buscar soluções para problemas encontrados na condução da lavoura, preenchendo lacunas do conhecimento científico. Essas atitudes foram, e ainda são, muito importantes para a geração de demandas e soluções, influenciando todos os segmentos do negócio agrícola.
Nos anos 1990, o Sistema Plantio Direto (SPD) torna-se, finalmente, uma ferramenta da Agricultura Conservacionista de elevada eficiência. Essa forma de manejo passou a promover equilíbrio e estabilidade dos sistemas agrícolas, contribuir para a conservação do solo, da água, do ar e da biologia do solo do do nas lavouras, prevenindo a poluição e a degradação ambiental do entorno. Com isso a resistência à adoção do SPD foi superada e todos os segmentos do agronegócio, inclusive as agências de fomento à pesquisa e as universidades, passaram a promover o seu desenvolvimento e aprimoramento.
Em 2020, a técnica chegou a ser adotada em 36 milhões de hectares, representando cerca de 54% da área de produção de grãos no território brasileiro. Mas para especialistas ainda há desafios e metas a serem atingidas, como saltar desses 36 milhões de hectares para 48,5 milhões de hectares nos próximos 10 anos.
De acordo com o professor João Carlos de Moraes Sá (Juca Sá), também presidente da Comissão Técnico-Científica da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (FEBRAPDP) e coordenador do Projeto Nacional “Sistema Plantio Direto: base para Agricultura Sustentável” a partir de 2012, a qualidade do SPD veio à tona e isso deixou muito claro que para ter sucesso com o Plantio Direto era preciso praticar os seus princípios, que são basicamente os três grandes pilares: o não revolvimento do solo (restrito à linha de semeadura ou covas para mudas), a cobertura permanente do solo com plantas vivas ou palhada e, a diversificação de plantas na rotação de cultivos.
A assistência técnica ao produtor rural teve papel fundamental neste processo, bem como a atuação de cooperativas e entidades de produtores de diversos locais, em especial da FEBRAPDP, que motivadas conseguiram articular e implementar várias ações. “Nesses 50 anos tivemos preocupações e incertezas, mas hoje passamos a entender o sistema como uma estratégia de produção de alimentos em harmonia com a natureza. Esse é o principal ganho”, afirma o professor Juca Sá.
Dos 36 milhões de hectares em Plantio Direto no país em 2020, somente entre 10% a 15% praticam o SPD fundamentado nos três pilares. Cerca de 85% a 90% da área, que hoje é contabilizada como Plantio Direto, aplica um ou dois pilares. “Isto significa que uma parcela expressiva dos produtores não está aplicando os três princípios fundamentais adequadamente”, afirma.
A meta é que em 2030 o Brasil alcance 12,54 milhões de hectares a mais em Plantio Direto. “E se chegarmos em 2030 a 48,5 milhões de hectares em Plantio Direto de grãos, sendo 35% a 50% em SPD (fundamentado nos três pilares) e não 10% a 15% como é hoje, daremos um passo gigante na agricultura brasileira”, prevê.
Dentro deste contexto, o professor vislumbra outros benefícios com o aumento da área. “Ampliando a área, teremos recuperação da vida e biodiversidade do solo, maior produtividade, sequestro de carbono, mitigação dos Gases de Efeito Estufa (GEE) e redução do impacto ambiental. O SPD tem uma contribuição fabulosa nessa mitigação”, acrescenta.
Além disso há o conceito sustentável do sistema. No ano passado o SPD, da forma como ele está, contribuiu para mitigar 59,5 milhões de toneladas de CO², ou seja, 10,4% das emissões do agronegócio. E, se praticarmos o sistema SPD na sua plenitude, podemos chegar a 211 milhões de toneladas de CO²; o que corresponderia a 35% do que o agro está emitindo”, enfatiza.
Juca Sá defende a implementação de um plano maciço de treinamento com o intuito de mostrar de uma forma consolidada, robusta e bem fundamentada para o setor do agronegócio, que é possível ganhar dinheiro preservando o meio ambiente. “Sem treinar as pessoas nós não vamos ter efetividade na implantação do SPD”, alerta.
Fonte: Agrolink
Texto: Eliza Maliszewski